A história da recepção de Gilberto Freyre na França é contada por Giselle Martins Venancio e André Furtado. Ao elegerem três nomes do universo acadêmico francês – Fernand Braudel, Roger Bastide e Lucien Febvre – os historiadores delimitam bem o campo de atuação de cada um, sem menosprezar a retaguarda editorial de Roger Caillois. Situam a emergência francesa de Gilberto Freyre dentro de um contexto maior, que era o da busca de saídas para os conflitos raciais de uma Europa que quase foi a pique entre 1939 e 1945.

A publicação organizada por Karla Carloni e Lívia Magalhães traz um artigo de María Verónica Secreto entre os escritos de 19 historiadoras. Os textos fazem parte de pesquisas individuais e debates coletivos realizados ao longo dos anos de 2020 e 2021 no ciclo de palestras homônimo, organizado pelo laboratório Brasil Republicano da UFF. No conjunto, a obra identifica a agência de mulheres e experiências de feminilidades e de feminismos diversos no período republicano, contribuindo para a compreensão de realidades mais complexas do que a tradicional noção de “ondas feministas” como única forma de transgressão da masculinidade hegemônica.

Reúne artigos de história agrária que tratam de posse da terra, arrendamentos, lutas camponesas, escravidão contemporânea, ensino agrícola, infraestrutura e modernização agrícola, cadeia mercantil e estratégias empresariais, história ambiental e história das ideias agrarias e da historiografia da área. Percorre uma América Latina que nasceu à vida independente no século XIX tendo como único capital a terra e seus homens. Logo a classe dominante tomou como missão se apossar da primeira e explorar os segundos. Assim se inicia a história que, “em pedaços”, decidiram contar 14 autores de Brasil, Argentina, Uruguai, Peru e Canadá.

Para examinar os desdobramentos da lei que colocou fim ao uso do ventre das mulheres como local de reprodução da escravidão, incluindo a continuidade de violências físicas, sexuais, psicológicas, simbólicas ou afetivas na vida dessas mulheres e de seus filhos,  surge o livro organizado pelos pesquisadores Maria Helena P. T. Machado, Luciana da Cruz Brito, Iamara da Silva Viana e Flávio dos Santos Gomes. No capítulo 12, María Verónica Secreto escreve sobre “Maternidades negras antes e depois do Regulamento para a Educação e Exercício dos Libertos de 1813 (Buenos Aires entre o final do século XVIII e o Instituto do Liberto)”.​

Sob a perspectiva da História Global, Norberto O. Ferreras aborda a construção da categoria do Trabalho Forçado, bem como a criminalização e a consequente abolição do Trabalho Escravo em diferentes países do mundo. O livro provoca o leitor com essa categoria controversa: o “Trabalho Forçado”, também conhecido como “Trabalho Escravo Contemporâneo”. Com escrita fluida e rica em referências, vai das abolições (nos séculos XIX e XX) do trabalho compulsório (o legal e o ilegal), às especificidades regionais, passando pelo modo como o tema abolicionista foi enfrentado nos organismos internacionais ao longo do século XX e como foi incorporado pelos movimentos de descolonização nas suas lutas independentistas e emancipatórias.

No livro de María Verónica Secreto, somos lançados ao universo de disputas e visões sobre o Império Espanhol a partir de um ponto geográfico específico. Para a autora, afirmar a posição de Buenos Aires não era só limitar as pretensões portuguesas. “Era enraizar um domínio etéreo sobre uma enorme área que se abria para o Atlântico: um velho espaço visto de outro ponto de vista”, pontua. Por mais que os portugueses tivessem projetado o Rio da Prata no Atlântico, algo mudaria. “Não era o Atlântico Norte que levava para Veracruz e Cuba e, a partir delas, para o istmo e o Mar do Sul. Era o Atlântico que comunicava África com América, que endireitava para o cabo Horn e pegava a volta ao continente”.

Ao introduzir o problema da constituição de uma memória no interior da investigação histórica, o livro organizado por Nayara Galeno do Vale e Giselle Martins Venancio convida o leitor a desvendar mecanismos de sacralização ou omissão de certos nomes nos panteões constituídos de forma póstera da História como disciplina. Convite primeiro feito às autoras e autores, que aceitaram escrever capítulos sobre historiadores e historiadoras que, mesmo alcançando algum reconhecimento em suas respectivas áreas de atuação, foram omitidos nos balanços da historiografia. Para as organizadoras, revisitar esses intelectuais ajuda a exercitar uma visão mais “poliédrica” e menos linear e sucessiva da História do Brasil.

No início dos anos 2000 a questão das desigualdades não parecia ser um tema que chamasse a atenção dos pesquisadores do social e do cultural. Nos últimos 20 anos, porém, o tema foi ganhando importância e se destacando em diversas áreas de pesquisa. Recentemente, as ciências econômicas e a antropologia iniciaram uma aproximação com a noção de desigualdade, com vistas a compreender a forma como se organiza a distribuição das riquezas nas sociedades contemporâneas e os seus impactos sociais e culturais. Entendemos que este livro é uma primeira contribuição. Como um conjunto de artigos e análises, o volume sugere que há ainda muito a ser feito e que é preciso uma observação cada vez mais atenta ao conceito desigualdade para que se possa construir uma categoria com forte potência analítica.