A riqueza dos projetos desenvolvidos pelos pesquisadores do núcleo pode ser observada na propositura de olhares teórico-conceitualmente preocupados em ultrapassar abordagens superficiais que muitas vezes se escondem em ênfases mais preocupadas em dar destaque ao tema ou à cronologia. Iniciativas individuais e coletivas traduzem essa busca pela apreensão alargada do objeto de pesquisa, fazendo da investigação temática um mergulho crítico que, ao se pensar, também se problematiza na escrita histórica.

No “trânsito geral do mundo”: traduções de autores brasileiros na Europa e Estados Unidos (1940-1970)
2020 – Atual
Investigação cuidadosa das traduções de autores brasileiros publicadas nos Estados Unidos, pelo editor Alfred Knopf, e na França, pela Gallimard, que busca analisar os motivos que levaram à escolha dos autores traduzidos nesses países que formavam o centro da produção editorial nos anos 40 a 70. Considera-se que os modos de circulação transnacional dos bens culturais são condicionados por exigências políticas e econômicas que pesam sobre os processos de tradução e sobre os agentes que fazem a sua intermediação, tanto nos países de origem, quanto naqueles da recepção das obras. São consideradas ainda as relações assimétricas estabelecidas entre os países nos processos de tradução e circulação intelectual.
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Giselle Martins Venancio (coordenadora)
Financiador: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Bolsa.

Desigualdades globais e sociais em perspectiva temporal e espacial
2018 – Atual
Investigação colaborativa que analisa a formação e a reprodução das desigualdades globais na longa duração (da Antiguidade ao capitalismo contemporâneo) e em diferentes escalas (indo e voltando do global ao local). Ao passo que a maioria das pesquisas empíricas contemporâneas sobre desigualdade se concentra nos campos da economia e da sociologia, focando no problema da disparidade de renda dentro de determinado país, o presente projeto define desigualdade como um fenômeno multidimensional, internacionalmente combinado e cumulativo. A desigualdade assim definida situa-se no plano dos direitos políticos e sociais, da repartição de poder e de riqueza, das formas de reconhecimento e do acesso a bens e recursos, sejam materiais ou simbólicos. Dessa forma, possui aspectos quantificáveis (diferenças de grau) e componentes qualitativas, simbólicas e fortemente classificadoras, como gênero e etnicidade.
Na fase inicial, a rede reúne pesquisadores dos Institutos de Geografia, História e Letras da Universidade Federal Fluminense (UFF); além de um significativo conjunto de instituições estrangeiras dotadas de larga experiência em parcerias individuais e coletivas (pós-doutorados; missões de trabalho; coautorias; etc.). Acadêmicos do Brasil, Estados Unidos, Argentina, França, Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha e México trabalhando em conjunto na formulação de uma sólida teoria empiricamente fundamentada no grande campo das ciências sociais sobre desigualdades globais que possa informar políticas públicas nacionais e ações de órgãos internacionais multilaterais destinadas a atacar o problema; consolidando, ao mesmo tempo, uma rede internacional de trabalho colaborativo acadêmico. Financiado pelo programa CAPES-PRINT.
Integrantes: María Verónica Secreto de Ferreras, Norberto Osvaldo (coordenador) Viviana Gelado, Giselle Venancio, Adriene Barón Tacla, Leonardo Marques e Tâmis Parron.
Financiador: CAPES-PRINT

Desigualdades globais nas Américas: história agrária comparada, 1850-1930
2018 – Atual
Pesquisadores da UFF, do CPDA-UFRRJ, IBGE e UFSC, se reúnem neste projeto que se propõe pesquisar a história agrária na América Latina em perspectiva comparada, a fim de identificar o peso dos processos sociais agrários na produção e reprodução das desigualdades entre nações e entre grupos sociais nas Américas. OA iniciativa prevê, entre outras ações, o lançamento de um livro sobre o tema, a publicação de três artigos em revistas qualis, o início da construção de um banco de dados sobre conflitos agrários no Brasil e a elaboração de um mapa interativo sobre desigualdades brasileiras.
Integrantes: María Verónica Secreto de Ferreras (coordenadora), Norberto Osvaldo Ferreras, Giselle Venancio, Debora Franco Lerrer, Leonardo Marques, Tâmis Parron, Diogo Cabral, Waldomiro Lourenço da Silva Júnior.
Financiador: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Auxílio financeiro.

Epistemologia Histórica e História Comparada das Ciências Humanas
2017-Atual
Investigação interdisciplinar sobre os principais debates, conceitos, categorias, virtudes epistêmicas e protocolos intelectuais que, ao longo do século XX e até o momento atual, conformaram o campo das ciências humanas, suas economias morais, seus objetos e seus ideais e práticas de racionalidade.
Desde meados do século XIX, a história e a filosofia das ciências dedicaram-se com mais atenção às ciências naturais, sinal do prestígio que elas adquiriram como modelo de objetividade naquele período. Já nas primeiras décadas do século XX, uma parte significativa dos pesquisadores nas diferentes áreas das ciências humanas colocou os aspectos epistemológicos destas disciplinas no centro de suas investigações, como uma forma de examinar historicamente a construção das suas formas específicas de racionalidade. Esse movimento fez com que as ciências humanas se liberassem dos modelos de cientificidade vindos das ciências naturais, mas também conduziu a uma especialização dos estudos disciplinares. Sem ignorar essa especialização, a epistemologia histórica e a história comparada das ciências humanas permitem a construção de programas de trabalho comuns a pesquisadores vindos de diferentes áreas.
Integrantes: Francine Iegelski (coordenadora), Mauricio de Carvalho Ramos, Tiago Santos Almeida, Kleverton Bacelar Santana, Itamar Freitas de Oliveira, Larissa Alves de Lira, Pedro Spinola Pereira Caldas e Juliana de Souza dos Reis.

Siervos and Cautivos, The Genesis of Modern Slavery: Medieval Spanish Legislation and Indian Practice
2019-2020
At first the Spanish colonization counted on black slaves in the expeditions and contingents sent to America. The temporal continuity between the “reconquest” of Granada and the “conquest” of America allowed for the transposition of some practices that deeply marked the social experiences of the Atlantic World. The “Indian Right” was made up of provisions sanctioned directly for Indies (America and the Philippines) and for the Castilian Right that also prevailed in the Spanish Empire. The Castilian Right had been formed by successive compilations that included Roman, Visigothic and Medieval Canon Law. The codifying effort of the thirteenth century gave way to two legal sets: the Fuero Juzgo and the Siete Partidas. Both sets constituted the legal basis of slave practices in the New World. The Siete Partidas, well known, with translations into various languages in the eighteenth and nineteenth centuries has received the attention of the historiography of slavery; not so the Fuero Juzgo, to which we also propose to dedicate analysis. Servant and captive are two different legal statutes present in both sets of laws. The terms servo (slave) and captive were used to define in America situations similar to those defined in the Iberian Peninsula. Thus the term “captive” was used for the relationship between Christians and non-Christians on the frontier of “evangelization”, while a slave was used for those who were born in India or born in them, remained deprived of liberty among Christians. At the Christian-Muslim border the captives could end up being servants unless they were rescued. According to experts, the passage time from “captive to slave” was approximately 6 months. If at that time the captive was not rescued then yes would be sold as a slave in a public auction at a “market” price. At the time of the first dispositions on the introduction of black slaves in America the two traditions of “subjects without freedom” that existed in the Iberian Peninsula were the one of the captives and the one of the servants or slaves. In the concept of captive the emphasis is on trafficking and on the concept of servant the emphasis lies on work. The present project seeks to clarify the roots of an Atlantic slave culture that involved the practice of manumission; of the peculum; sevicia (bad treatments); of the right to the family, while seeking, in the differentiation between captive and servant, the justification for trafficking and slavery.
Integrantes: María Verónica Secreto de Ferreras (coordenadora) e Tamar Herzog.

Soberania régia e conflitos de jurisdição: a capitania da Paraíba do Sul entre 1727 e 1753
Coordenado por Ronald Raminelli, o projeto analisa os limites da soberania régia sobre a capitania da Paraíba do Sul a partir dos conflitos entre o donatário da capitania, o governador do Rio de Janeiro e ouvidores.
Em 1674, a monarquia portuguesa concedeu a capitania à Casa Asseca, mas o território ficou abandonado e sujeito às ocupações das ordens religiosos e dos criadores de gado. Anos depois, o Visconde de Asseca retomou o controle, mas enfrentou forte oposição do governador que concebia ilegalmente a região como capitania anexa ao Rio de Janeiro. Durante os conflitos, nem sempre os donatários, governador e ouvidores se guiaram pelas normas do poder real. Intensificados entre 1727 e 1748, os abusos e conflitos de jurisdição demonstravam os limites da soberania régia nos confins do império.
A investigação ainda destaca as diferenças entre as determinações régias e os interesses particulares das autoridades providas (governador e ouvidor) pela monarquia. A pesquisa analisa as intervenções e negociações travadas entre a monarquia portuguesa, os donatários e os poderes locais, entre 1676, quando a capitania foi doada aos Asseca, e 1753, ano em que a monarquia comprou a capitania do Visconde.
Recorrendo ao conceito de soberania, o projeto analisa a documentação administrativa e, em seguida, compara os conflitos e negociações que envolveram a coroa e os donatários da Paraíba do Sul, de Pernambuco e Itamaracá. Conforme metodologia de Lauren Benton, o caso da Paraíba do Sul também é analisado a partir de uma perspectiva global, ao investigar a soberania da monarquia portuguesa, na mesma conjuntura, em seus territórios da África e Ásia a partir de estudos historiográficos.
A iniciativa fomenta uma reflexão sobre as dificuldades do Estado de controlar os territórios sob sua jurisdição, tema bastante atual sobretudo no Rio de Janeiro.
Integrante: Ronald José Raminelli (coordenador).
Financiador: FAPERJ – Bolsa.

Ideias em tempo de Guerra Fria: circulação intelectual, encontros e desencontros
2019 – Atual
Contemplado no Edital CAPES-COFECUB, reúne equipes de pesquisadores do Brasil (UFF e UNICAMP) e da França (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 / IHEAL e CREDA-UMR7227, e CNRS), sob coordenação de Denise Rollemberg (equipe brasileira) e Olivier Compagnon (equipe francesa). O projeto busca ampliar e aprofundar o enfoque dos estudos das relações assimétricas franco-brasileiras, considerando-as a partir das tensões do mundo pós 2ª Guerra Mundial, quando diferentes atores e instituições de outros países das Américas e Europa ganharam relevância.
As relações culturais entre o Brasil e a França desde o fim do século XVIII possibilitaram numerosos trabalhos (entre eles, Parvaux et Revel-Mouroz, 1991; Carelli, 1993; Lessa, 1997; Nitrini, 2000; Suppo, 2000; Mattoso, Capanema, Compagnon et Fléchet, 2017). Entretanto, é possível afirmar que aquelas produzidas na 2ª metade do século XX foram negligenciadas. Dois fatores conferem a esta sequência cronológica estatuto particular no longo período das relações franco-brasileiras. De um lado, a 2ª Guerra diminuiu a circulação cultural entre as duas bordas do Atlântico, possibilitando a consolidação da presença cultural dos EUA na América Latina (Ninkovitch, 1981; Gamero, 1986; Pernet, 2007; Goebel, 2009). De outro, o surgimento da Guerra Fria na América Latina, com a criação da Organização dos Estados Americanos em Bogotá (1948) e o início da difusão da Nacional Security Doctrine para o sul da América, conferiram a Washington-Moscou estatuto referencial que era ocupado por outras “metrópoles de substituição”, entre elas Paris (Guerra, 1989). A América Latina se transforma em lugar de disputa cultural indireta destes dois Grandes até a virada dos anos 1980 e 1990 (Albuquerque, 2011; Ridenti, 2012; Pedemonte, 2016).
As equipes reunidas pelo projeto trabalham em conjunto pela primeira vez. Apresentam a tradição e a inovação necessárias para formar nova rede de pesquisadores, projetando futuras parcerias a partir dos desdobramentos da iniciativa. Denise Rollemberg, experiente pesquisadora sobre a ditadura militar brasileira e regimes autoritários e totalitários europeus, publicou artigo em livro (2016) organizado por Olivier Compagnon e Diogo Cunha, que será um dos pós doutorandos da equipe brasileira. Compagnon organizou com Angélica Müller (2018) um colóquio sobre os 50 anos de 1968 com a participação de Marcelo Ridenti, momento em que ambos brasileiros estavam como professores convidados do Iheal. Ridenti e Rollemberg já trabalharam em outros projetos Capes-Cofecub (Rolland; Rugai; Ridenti; Reis, 2003). Giselle Martins Venancio, cuja experiência no tema é grande, destacando o trabalho sobre as traduções de Serge Miliet, soma-se à equipe juntamente com as pesquisadoras Francine Iegelski, cuja tese sobre Lévi-Strauss recebeu prêmio na USP, e Juliette Dumont, que estudou as relações internacionais culturais entre Brasil e França na primeira metade do XX. Hervé Théry, titular da cátedra Pierre Monbeig na USP, é antigo mediador entre os mundos acadêmicos franceses e brasileiros.
Integrantes: Giselle Martins Venancio, Denise Rollemberg (coordenadora), André Carlos Furtado, Francine Iegelski, Olivier Compagnon, Marcelo Ridenti, Angelica Muller, Juliette Dumont, Frank Poupeau, Herve Théry.
Financiador: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Auxílio financeiro.

Frutos da terra. A política de grãos na Espanha e na América Espanhola no século XVIII-XIX
2019 – Atual
Coordenado por María Verónica Secreto, o projeto analisa a política agrária e de comercialização de grãos do reformismo bourbônico a partir da experiência do Rio da Prata. O corpus documental reúne um conjunto de textos manuscritos e éditos produzidos pelos lavradores, pelo consulado de comércio, pelos representantes legais dos grêmios e pelas autoridades locais e metropolitanas. Além desse corpus, a bibliografia selecionada permite uma reflexão analítica consubstanciada e localizada do debate que, nas últimas quatro décadas do século XVIII, se produz em torno às ideias de liberação do comércio com ênfase na política de grãos.
Integrantes: María Verónica Secreto de Ferreras (coordenadora), Karen Souza da Silva, Nathalia Mattos e Arthur Licate de Sousa.

Mulattos in the Nation: Brazil and Cuba in the nineteenth century
2019 – Atual
Drawing on Brazilian and Cuban novels and memoirs, the project intends to analyze how mulattos were inserted in projects of the nation in both countries. The research will consist of two stages. Initially the memoirs and discourse of ideologues about the nation will be analyzed. Afterwards the portrayal of racial diversity and the idea of the nation in nineteenth century novels will be examined. In both countries enlightened writers saw slavery and the diversity of peoples as obstacles to the formation of the nation.
The existence of different races was seen as weakening homogeneity and stability, characteristics of strong and independent nations. In sketching out strategies to make the nation feasible, at times ideologues mentioned the potential of racial intermixing mestiçagem/mestizaje to end differentiation. As Peter Wade has highlighted, the national glorification of mestiçagem/mestizaje could indicate both democratic projects aimed at achieving racial harmony and a rhetoric for hiding racism, stimulating practices of whitening and ethnocide. Racial intermixing frequently evoked the hierarchical differences and racial inequalities inherent in projects of homogeneity for the future nation (Wade, 2003: 263-4).
Since the seventeenth century, mulattos had attracted attention from the Luso-Brazilian literati. The offspring of slaves and slaveowners, mulattos experienced considerable ambiguity. In slaveholding societies where color often indicated people’s social condition, many mulattos were free, sometimes even rich landholders and responsible for the command of the militia, but in terms of color were little different from slaves. In the poetry of Gregório de Matos, mulattos appear as seductive, lustful, and capable of cheating and subverting order. For the Jesuit Antonil, in Brazil they lived in a paradise, exempt from the responsibilities of landowners and protected from slavery by their parents. Combatting this negative image, the Franciscan Loreto Couto mentioned the many mulatto women in Pernambuco who died in defense of their honor. He also listed mulatto heroes and denounced the slanders made against these mestiços (Raminelli, 2015).
Integrante: Ronald José Raminelli (coordenador).